quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Na fila do cinema

Ele era testemunha de tudo o que ela fazia. Ele sempre ficava olhando e pensando nada, porque ele não tinha como pensar. E se pensasse não chegaria a maiores conclusões senão de que ela era uma louca e não sabia o que fazia. Ele era tão desprovido de opiniões que na época do plebiscito do desarmamento só saiu de casa para ir ao Correio e justificar seu voto. É aquele típico brasileiro que sempre acha que sua opinião não importa e não faz diferença. O que ele pensa nunca condiz com o certo, seja lá o que for o certo.
Gabriela adorava discussões sobre política, meio ambiente e gosto musical. Estava sempre metida em botecos falando sobre os problemas sociais. Ele sempre a acompanhava, e sempre ficava só na cerveja. Se opinasse alguma coisa era para escolher a marca da tal, porque a única coisa que ele não admitia era tomar cerveja ruim. Bom, está ai uma coisa que ele tinha opinião, mas perto dos debates de direita e esquerda de Gabriela isso não era nada. Gabriela sabia disso, mas mesmo assim achava a companhia dele indispensável e agradável. Os outros sempre se perguntavam o que Gabriela vazia com aquele ser tão fútil ao lado dela.
Gabriela conhecera Gabriel na fila do cinema há exatos 2 anos e 2 meses. Ele era o último da fila quando Gabriela chegou. E um ser que usava roupas estranhas e largas resolveu furar a fila na frente de Gabriel, que só fez cara feia e não falou nada ao estranho garoto. Gabriela com todo seu ar de superioridade que lhe era praxe começou a xingar o garoto, até que este foi para o final da fila. Olhou para Gabriel e soltou:
- Têm pessoas que acham que são os donos do mundo!
- Aham.
Gabriela odiava ahans, mas sentiu no fundo que aquela pessoa sem opinião tinha um toque especial. Sentaram-se na antepenúltima fileira para assistir ao filme. Lado a lado.
Na verdade quem sentou naquele lugar foi Gabriel. Gabriela só o seguiu, pois sentiu que não poderia perdê-lo de vista. Nunca mais.
Ele sempre fora assim. Sempre foi atrás das coisas que lhe pareciam aprazíveis. Tinha um olhar mágico para pessoas mágicas. Foi assim que se conheceram.
Continua...

4 comentários:

Senhorita B. disse...

Lu,
A distribuição dos livros é péssima! Acho que não!
Beijos,
Renata

Palatus disse...

Oi Luíza,
Em primeiro lugar: obrigado pela visita ao Palatus! Obrigado pela leitura do Revista7, gosto muito do trabalho dos 7! Segundo: como o mundo é pequeno!E o virtual menos ainda. Sei que Renata Belmonte já é famosa na literatura atual, mas não sabia que vocês se correspondiam. Conheço o blog dela e já li o primeiro de seus livros: Femininamente-um ouro rápido de se lapidar, ou melhor, de se ler, já que a obra é lapidada.
Por último: voltarei para ler o final desta história. Gabriela é forte por suportar esta figura. Será que Gabriela de Jorge Amado teria tanta paciência???

anjobaldio disse...

Ôi Luíza, obrigado sempre por tuas visitas. Bjs.

Marcelo disse...

Bóóóóó.... Nasce um novo épico... hehehehehe
Ve se nesse chega a pelo menos uns 40 capítulos... hehehehehe

bjão ;)