Ali da janela ela podia te ver. Passaram dias depois daquela noite fria pero no mucho. É que alma e afeto esquentam qualquer parada.
E ali da janela ela te via.
Só que aprendeu, aprendeu nos últimos três anos, que a vida é basicamente sobre guardar na memória e depois esquecer. Ela tinha guardado na memória uma cena numa esquina onde passava diariamente. Uma vez quando andava de cabeça baixa por ali deu de cara com o menino. Depois deu de cara com ele naquela pizzaria, mas dessa vez estavam sentados e comiam. Pelo que lembra era quatro queijos e calabresa.
A esquina, a pizzaria, aquele canteiro na frente da academia... Todos tinham sido lugares de encontros, marcados ou aleatórios. Aqueles lugares guardavam lembranças de dor de barriga, de frio na espinha, bochechas vermelhas e coração disparando. Abraços também tinham passado por lá.
Quando dessa vez não quiseram embarcar na sua barca, nem viver como um náufrago ou se afogar de amor, ela sabia que a imagem da janela, quanto menos esperasse, seria esquecida.
Quando diz que a vida é sobre guardar na memória e depois esquecer, é sobre isso que quer falar. Encontros que se desmancham na memória, passam como um sopro. Quando vê, já foi.
Meses depois ela passa pela esquina e mal lembra o que aconteceu ali.
Agora ela espera o momento que vai olhar pela janela e não ver mais nada além do seu reflexo, nua, descabelada, amparada por alguém que vai deixar memórias mais duradouras ali.
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