Te vi caminhando na rua com uma folha de plátano na mão. Era outono, mas fazia calor.
Apressei o passo na tentativa de te alcançar, de fazer com que tu me visse também, talvez eu poderia chegar até ti e dizer tudo que sempre tive medo.
Aquele dia em que tu te abriu pra mim eu silenciei. Mas consegui dizer que não era nada daquilo, era viagem da tua cabeça.
-Deixa de ser besta. Não quero que ninguém sinta saudade de mim, não quero ninguém gostando de mim. Vamos ficar de boa.
Eu disse querendo dizer, mas eu disse com medo.
Quando eu te vi caminhando com a folha de plátano na mão eu quis te puxar pelo braço e falar que eu sentia muito. Quis dizer que sentia saudade e que as plantas lá de casa já estavam morrendo sem a tua presença. Acender o Palo Santo já não tinha mais graça, aliás, nem sei onde ele foi parar. A fumaça se dissipava rápido, o ar não purificava. O silêncio gritava.
Quando te vi caminhando com a folha de plátano na mão pensei em correr e te convidar para ir à praia comigo. Lá resolveríamos todos os nossos problemas, a água do mar ia purificar. Saravá!
Ou poderia te convidar pra almoçar naquele chinês da primeira vez, lembra? Ou a gente pegava a estrada, atolava os pés na lama, no meio do mato e então lá, eu conseguiria te dizer que me sufoquei com as palavras que eu não te falei. Que o tempo passou, a barca passou e eu não embarquei de besta que eu sou.
E eu estava ali, cheio de planos, cheio de vontade, e corri!
Te vi caminhando na rua com uma folha de plátano na mão.
Mas não te alcancei.
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