sábado, 21 de julho de 2007

Senhor vai e volta - Parte I

Seu nome ninguém sabia, mas todos o conheciam como "o senhor que vai e volta". Ele tinha uma alma tão pura e inocente que qualquer anjinho transuente tinha inveja dele. Era aquela mesma coisa todas as manhãs: acordar, falar com os pássaros que por ali passavam, sair para rua com seu notável chapéu de penas coloridas e ir ao mesmo lugar. Velho lugar.
As penas coloridas no chapéu eram resultados de uma juventude que tinha toda a alegria guardada no armário, e quando queria usá-la, era só abrir e escolher a alegria que combinasse com a ocasião. Naquele tempo aviões não explodiam, não havia aviões. As ruas eram bem mais verdes e os pássaros falavam bem mais com senhor vai e volta.
Depois de tantos anos que passaram, aquele senhor ainda sentia o cheiro de um tempo que nunca mais havia de voltar, ele estava impregnado em cada lugar que o senhor vai e volta passava e ele nunca desaparecia.
Aquele velhor lugar, onde será?? Perguntavam-se os meninos bonitos e modernos que por alí pasavam todas as manhãs também. O lugar que o senhor vai e volta freqüentava ficava tão longe quanto as lembranças que só ele sabia que existiam lá no fundo daquele mesmo lugar. Com seu vistoso chapéu lá ia ele com toda sua vontade reprimida que só ele sabia onde guardava. Ele sempre dizia que essas vontades assim devem ficar guardadas. E devem ser lembradas muito raramente. O senhor vai e volta tinha medo de expor o que ele mesmo tinha inventado.
Acompanhado das penas coloridas ele chegava com toda a simplicidade que aprendera a ter no exílio, sentava e pedia a mesma coisa, ao menos que o tempo bom não aparecesse, daí então ele se esquentava de outra maneira. Alí ele sentia-se muito bem, obrigado. Pois só as pessoas que alí freqüentavam podiam sentir o que ele também sentia. A esquisitices que se ouviam nesse lugar eram resultados de vidas vividas da maneira mais intensa possível. Alí quem não sentia as dores e as vontades reprimidas não entrava.
Só que, mal sabia o senhor vai e volta, aquele dia seria atípico. Ele começou a perceber essa diferença quando Ela entrou por aquela minúscula porta. Ela e a saudade, de mãos dadas.



2 comentários:

Anônimo disse...

Vem cá... quero saber o q aconteceu qdo as duas chegaram de mão dadas na vida do Senhor Vai e volta... O q acontece com ele? Ele se perde e fica confuso? Ele tem q mudar sua "rotina diária"? Q tipos de lembranças ele carrega?

A história ta intrigante...

Senhorita B. disse...

"ele e a saudade, de mãos dadas". Lindo!
Bjos,
Renata