sexta-feira, 27 de julho de 2007

Senhor vai e volta - Parte II

Assim que Ela entrou ele ligeiramente virou-se de costas e recolocou seu chapéu de penas coloridas que ele sempre tirava para entrar em lugares fechados.Costume de uma civilização que já não existia mais. Ela já não tinha aquele ar sonhador que possuía há décadas atrás e que encantou o senhor vai e volta no primeiro instante. Agora Ela tinha uma frigidez que se percebia de longe.
As duas entraram, sentaram-se na mesa mais longe de todos e olharam à sua volta. Nada de perceptível lhe chamou a atenção, mas Ela sentia que algo acontecia alí por perto.
Aquela porta era tão barulhenta e frágil que o senhor vai e volta ficou com medo de sair e se fazer notar. Ficou alí, parado, de costas para sua memória, esperando o próximo segundo, esperando uma mão no ombro que lhe dissesse olá!
De repente um barulho ensurdecedor tomou conta de tudo. Naquele momento qualquer barulho era ensurdecedor. Um copo que foi ao chão, que caiu da mão Dela quando olhou para o balcão. Ela conhecia aquele chapéu tão bem quanto sua alma, que havia perdido há décadas também. Ela hesitou qualquer reação, baixou sua cabeça e vidrou os olhos numa divisão do azulejo velho e sujo do chão. Faltava coragem para levantar a cabeça e olhar de novo para ter certeza de que o que Ela via não era ilusão. Ficou nessa posição por alguns minutos até ver uma sombra passar ao lado dela e bater aquela velha porta.
Quando o senhor vai e volta sentiu a brisa da rua sentiu também aquela velha vontade. Aquela vontade que, até então, ele achou que nunca mais sentiria.

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