terça-feira, 2 de outubro de 2007

Ligação perdida

Eu estava me exibindo pra solidão. Eu tenho este maldito costume de deixar de fazer as coisas por medo. Afinal, é mais fácil dizer que eu estou com medo a assumir as coisas que eu devo fazer. É mais fácil e abusivo comigo mesma. Eu não deveria deixar-me ser tão abusiva assim. Será que eu não sei que as coisas acontecem uma só vez e que as pessoas cansam de esperar?
Daí surge do nada uma superpessoa e coloca as tuas idéias no lugar. Te xinga e te faz ver que o buraco é mais embaixo.
Ela andava tão perdida e desesperada que até o tinha esquecido. Temporariamente. Depois de olhar o celular tocando e desliga-lo pela décima vez só naquela tarde, ela resolveu que da próxima vez iria atendê-lo. Foi só ela tomar essa decisão que o telefone não tocou mais, nem naquele dia, nem naquela semana. As coisas sempre aconteciam assim na vida de Clarice. Ela esqueceu o telefone e continuou a pintar seu quadro, afinal a exposição já estava se aproximando e seu último quadro ainda estava pela metade. Nos últimos dias o trabalho dela não estava rendendo tanto quanto nos primeiros meses após sua volta de Buenos Aires. Parece que sua volta não a tinha feito bem. Assim como não tinha agradado a ele.
Na segunda feira pela manhã Clarice saiu para ir ao banco pagar umas das muitas contas acumuladas na viagem. Ela saiu com a pior roupa que podia. O dia estava nublado, era segunda feira, aliás, então com aquela roupa Clarice demonstrou todo seu astral matinal. Na fila do caixa eletrônico Clarice teve sua maior surpresa após sua volta. Ela o viu. A roupa dele não era das melhores também, mas isso não importava no momento. Momento que demorou sete meses para acontecer. Diálogo não existiu ali. Um abraço tomou conta dos 75 segundos seguintes daqueles dois idiotas que esqueceram tudo que tinha acontecido nos últimos dois anos.
-Telefone existe para que Clarice?
-Para eu não atender.
Foram para a casa dela e lá recuperaram as ligações perdidas.

2 comentários:

aeronauta disse...

Seu texto me lembrou essa passagem clariceana: "Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fio. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos." Abraços.

Senhorita B. disse...

Lu,
Quero sua resposta, viu?
Beijos,
Renata