segunda-feira, 4 de junho de 2018

A mala

Este é um conto baseado em fatos reais, mas qualquer semelhança com situações que te pareçam familiares será mera coincidência, afinal, quem nunca precisou partir sem deixar uma mala pra trás.
A história começa quando me disseram:
- Segue adiante!
Então, fui tentar seguir em frente. Só que eu estava carregando uma mala muito pesada, com coisas importantíssimas dentro. Como eu ia seguir em frente sem ela? Mas como eu ia levá-la se não conseguia nem tirá-la do chão? Gente, que sufoco! Que desespero! Que grande dúvida!
Pensei em arrastar minha pequena grande mala, mas se eu arrastasse iria arranhar ou até rasgar. Ia dar certo por alguns passos, mas no meio do caminho ela se desmancharia sob meus pés.
Pensei em carregar nas costas, quem carrega uma criança, carrega uma mala, afinal....
Só que isso ia me dar uma dor gigante na lombar e uma dor de cabeça daquelas de deitar no escuro e ficar.
Aquela mala valia tanto a pena... Ela era tão sensacional, tinha tanta coisa lá dentro. Era cada garrafa de vinho. Cada filme, cada foto dos últimos  dois meses.... Não passava pela minha cabeça deixá-la pra trás. E era pior. Eu não queria deixá-la. Como? Como eu ia viver sem as garrafas de vinho? E o palo santo que estava lá dentro?
Mala, vinho, plantas, palo... eu posso conseguir tudo isso. Vou dar uns 7 ou 15 passos e encontro outra no caminho. Quiçá no sexto passo eu já tenha esquecido da mala lá atrás, pensei...
E fui seguir adiante, conforme recomendações.
Dizem que quando nos despedimos de alguém que vai entrar num ônibus ou numa sala de embarque, a pessoa que está indo embora não pode olhar para trás. Depois do beijo de despedida ela deve seguir em frente sem aquele tchauzinho, sem hesitar, sem parar e olhar para quem ficou. (E a pessoa que ficou ali parada vendo a cena maistristedomundo deve virar as costas e seguir seu rumo imediatamente, se não a cena fica mais triste que aquele samba do Noel).
Adivinha o que eu fiz?
Eu olhei para trás. Eu olhei para a mala.
Lembrei de tudo que tinha ficado lá. Será que não tinha jeito mesmo?
Nessa hora eu lembrei de quem tinha me falado ~segue adiante~
Quem era essa pessoa? O que ela sabe da minha vida? Ela nem sabe que eu já fui atropelada por uma bicicleta enquanto segurava garrafas de cerveja, não sabe que eu me perdi dos meus pais em Tramandaí quando tinha uns 5 anos. E não sabe, e nem imagina, que é ela quem deixa a mala mais pesada, porque ela está lá dentro, junto com o vinho, as fotos, o palo e as plantas.
Como eu vou seguir adiante?

(...)



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