terça-feira, 18 de junho de 2019

A Cool


A ambulância chegou antes do acidente. Parou e ficou esperando o carro vir e bater no muro da escola. Eles sempre chegavam antes, já percebendo o que aconteceria logo após. Lá de dentro, Clarice assistia a tudo com um chocolate à mão e uma percepção que era quase lógica naquele momento. Ela adorava assistir a resgates. Era um gosto inusitado a uma garota de 17 anos, loira, baixinha e com um sorriso bom. Talvez por isso mesmo ela gostava de coisas obscuras assim. Poderia ser também um jeito de fugir da futilidade que lhe perseguia. Aquelas princesinhas de salto alto que a perseguiam, por Clarice ser a filha do Sr. Gastor. 
O carro veio com uma velocidade que não fez tanto estrago. De dentro dele saiu uma senhora chiquérrima e com uma cara de quem tinha mais uns 347 carros na garagem. Totalmente cortada pelos cacos de vidro que se quebraram com a batida, porém viva. Viva, andando e xingando os pobres buracos que a fizeram ir de encontro ao muro da escola. 
Clarice via aquela situação com uma alegria escondida. 
O sinal tocou e Clarice voltou para seus livros.
As coisas lá já não eram como antes. Clarice sempre foi a garota prodígia da escola, por isso estava cursando seu último ano naquele lugar, e sonhando com a tão querida viagem a Londres.
Ela era cool ! Escutava músicas que ninguém gostava, usava umas roupas bregas ao olhar daquelas outras meninas e era a única que conversava com Mar. Omar era assim conhecido por aqueles que se atreviam lhe dirigir alguma palavra e educação. Clarice era uma das poucas pessoas que isso faziam. Deveria ser odiada por todos por esse motivo. Mas Clarice era a filha do Sr.Gastor, e isso a fazia ser a mais legal das pessoas.
Ela odiara o fato dos outros se aproximarem dela pela sua genética, era totalmente contundente em suas opiniões por esse motivo.
cool vinha de acoolta. Pois Clarice vivia com um livro embaixo do braço. Assim era vista por todos: a garota que exala cultura!
Gostava desse adjetivo (se é que isso pode ser chamado de adjetivo).
Um dia Clarice na biblioteca, pesquisando Tolstói, encontrou uma carta dentro de Ana Karênina, que começava assim:

"O tempo muda várias coisas. As árvores da rua, a cor do céu, a cor do meus cabelos, as minhas convicções... Mas uma coisa ele não muda: a saudade de tempos velhos."

Não viu nada de diferente e importante nela. A devolveu ao livro e continuou sua saga a Tolstói.

19.08.2007

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