terça-feira, 7 de agosto de 2007

Senhor vai e volta - Parte IV

"O tempo muda várias coisas. As árvores da rua, a cor do céu, a cor do meus cabelos, as minhas convicções... Mas uma coisa ele não muda: a saudade de tempos velhos. Até a saudade das dores que eu sentia, ele não muda.
Quando entrei alí e vi minha memória tão perto, em frente àquele balcão, senti uma coisa que pode ser chamada de medo. Logo me fiz disfarçar, tentei achar que era pura alucinação, mas não consegui. Olhei com olhos atentos, olhos de que nem mais tinham esperança alguma. Olhos esses, quiseram mirar o chão e eu deixei. Fixaram-se alí e dalí não saíram até eu sentir que o medo tinha ido embora por aquela porta.
A minha covardia te não lhe ter trocado palavra alguma foi tão grande quando a saudade que senti.
Desculpe-me. Mas ainda poderei ter a certeza de que o que vi não foi lembrança. Foi real. E isso foi a melhor coisa que aconteceu, passados 26 anos.
A saudade ainda existe.
Até logo."

Ela sempre escrevera e falara muito bem. Era professora de latim nos tempos bons.
Ele guardou aquele bilhete atrás do travesseiro depois de tê-lo lido e relido umas boas várias vezes. Ainda não podia acreditar em tudo que acontecia naquele momento. Assim como ela, ele sentia que sua vida havia parado há 26 anos. E naquele momento pode ver que a vida começara muito mais tarde para ele. A felicidade era infinita. Não podia se conter em si, ria sozinho. Abriu uma garrafa de uma bebida que só ele gostava entre as pessoas que conhecia. Era uma bebida muito forte, de gosto amargo, mas logo a sentiu descer na garganta feito água. Tinha vontade de sair na rua e parar a primeira pessoa que visse para contar sua história, um tanto quanto romântica, um tanto quanto trágica.
Mas ficou por ali deitado na cama, com a garrafa embaixo do braço e o bilhete embaixo do travesseiro.

9 comentários:

O Sibarita disse...

Olá! É isso sua menina, o seu conto está 10, bem alinhavado e de fácil compreenção.

Sim, o tempo presente nos faz repensar e mudar muita coisa, entretanto, o tempo passado traz a saudade daquilo que foi bom e nos marcou.

Ai meu Jesus! kkk Essa garrafa embaixo do braço e o bilheite embaixo do travessero tá massa, faça fé!

abraços
O Sibarita

Senhorita B. disse...

Sabe, Lu?
Eu tb sinto que está tudo interligado.
Seu texto é ótimo.
Beijos,
Renata

Luiza disse...

Fico tão feliz quando surgem novos leitores, assim, de graça...

Thanks pessoas blogueiras!
Adoro.

O Sibarita disse...

Ah você escreve bem sua danadinha!
Leitores não irão faltar faça fé!

bjs
O Sibarita

Diana Pinto disse...

ah, a saudade. Essa dói algumas vezes, principalmente quando parece que as mudanças são inexplicáveis...

beijos!

Marcelo disse...

O Lú... Olha o que vc me obrigou a fazer quando me disse: "Entra no mundo dos blóguiz!"... (Ar debochado, tah?)

hehehehehhehehe

olha aí, e me diz o q achou...

http://republica-guaranis.blogspot.com


bjus....

Marcelo disse...

Ah... O Senhor Vai e Volta sonha com Ela? ^^

Senhorita B. disse...

Obrigada, Lu! Você tb é uma leitora muito querida!
Beijos,
Renata

Klatuu o embuçado disse...

Adorei o modo como esta frase «Era professora de latim nos tempos bons.» nos envia para uma viagem pela memória...

Dark kiss.